XIV Domingo do Tempo Comum

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junho 29, 2018
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julho 6, 2018

XIV Domingo do Tempo Comum

(Mc 6,1-6)
Da admiração à rejeição.

Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ

Para responder à pergunta: “Quem é Jesus?” o evangelho de Marcos, na sua primeira parte, apresenta as várias reações, tanto positivas quanto negativas, diante da pessoa de Jesus, dos seus ensinamentos e ações. No evangelho de hoje temos um contexto bem preciso, isto é, a visita de Jesus à sua pátria Nazaré e permanência entre os seus. Agora, a intenção do evangelista é responder: Por que Jesus é rejeitado? Segundo o próprio provérbio mencionado: “Um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua parentela e em sua casa”, parece que o fato segue uma certa lógica evocada pelo dito. Porém, o evangelista emoldurou toda a presente cena com o motivo principal da rejeição de Jesus: “Começou a ensinar…Ele percorria os povoados circunvizinhos, ensinando”. Na verdade, era o ensinamento de Jesus que provocava a rejeição. O evangelista já tinha relatado cena semelhante na sinagoga de Cafarnaum; aqui também temos uma reação diante do seu ensinamento (cf. Mc 1,21-28). Em ambas as cenas, mesmo reconhecendo a autoridade do ensinamento de Jesus, e maravilhando-se diante de tanta sabedoria, a reação final é de rejeição e perseguição, pois os seus opositores se sentem ameaçados. Entre o ensinamento de Jesus e o dos mestres do seu tempo há um abismo, ou seja, a coerência de Jesus desmoraliza a falta de autoridade moral dos outros mestres. As pessoas percebem que não basta apenas ensinar teorias sobre a religião ou a Escritura, mas é preciso comprometer-se na prática com aquilo que é transmitido por palavras.

A diferença de ensinamento não estava nas Escrituras utilizadas, tanto Jesus como os mestres faziam uso dos mesmos livros, mas a diferença incontestável estava nas implicações práticas da leitura das Escrituras. Enquanto a interpretação dos mestres aprisionava as pessoas na ignorância, pois não conseguiam entender a Palavra de Deus, o Mestre Jesus abria a mente e o coração das pessoas, libertando-as das interpretações ideologizadas da Lei que beneficiava um pequeno grupo.

Marcos inicia o seu evangelho dizendo que Jesus é o Cristo, Filho de Deus (1,1). Porém, não omite a verdade fundamental de que Ele assumiu realmente a condição humana: “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria…? Duas afirmações basilares para falar da existência humana: seu nascimento (filho de Maria) e sua sobrevivência (carpinteiro); de fato, Jesus, o Filho de Deus, é homem. Chamando-o de “carpinteiro”, Marcos evidencia o longo período vivido por Jesus antes de iniciar a sua vida pública. Portanto, a sua sabedoria está em consonância com a tradição sapiencial veterotestamentária. No Antigo Testamento, sábio não é aquele que sabe fazer reflexões, especulações, mas é o que tem a sabedoria prática, isto é, quem sabe fazer bem as coisas; é uma sabedoria na utilização apropriada da técnica, uma capacidade operativa do homem; é a sabedoria como conhecimento do próprio trabalho: quem faz bem o próprio trabalho é um sábio. Por isso, não há uma contradição entre afirmar que Jesus é carpinteiro e, ao mesmo tempo, sábio.
Mas, o povo reconhece que a sua sabedoria tem outra fonte: “E que sabedoria é esta que lhe foi dada?” Portanto, não é apenas uma questão de prática laborativa, mesmo que competente. O seu ensinamento tem algo que incomoda, tem uma autoridade que foge ao controle dos rabis do tempo.

O que chama atenção é que não se fala explicitamente do conteúdo do ensinamento de Jesus, diz-se apenas que estava ensinando e que as pessoas ficavam maravilhadas. Não encontramos nesse contexto nenhum sermão, nenhuma parábola, nem mesmo ditos de Jesus. Então, o que seria este ensinamento? Considerando que Ele estava na sinagoga e em dia de sábado, o ponto de partida do seu ensinamento era a Escritura, cujo núcleo era a Lei, e tendo como leitura crítica da Lei os profetas. Jesus não repete as Escrituras, mas sendo Ele a Palavra, a sua presença já é a realização de todas as promessas do Antigo Testamento. Portanto, não precisava fazer explicações das Escrituras, apenas testemunhar que elas estavam se cumprindo Nele.

A referência à sua origem humana é a novidade do seu ensinamento: Deus se fez carne, isto é, um ensinamento até então desconhecido, e impensável. Porquanto, se faz necessário acolher este ensinamento com a fé, caso contrário a reação será rejeição, pois excede a lógica inclusive religiosa do momento.

O escândalo das pessoas diante da verdade da Encarnação causa admiração em Jesus: “Admirou-se com a incredulidade deles”. Se por um lado, reconhecem a superioridade da sabedoria de Jesus, por outro, não querem aceitar (acreditar) que seja possível para Deus assumir a humanidade, fazer-se filho de uma mulher e irmão de seres humanos. Nisto consiste a principal razão da rejeição de Jesus por parte da humanidade não apenas no seu tempo, mas ao longo da história. Ensinar para Jesus era testemunhar que Ele era o Deus que se encarnou, possibilitando aos seus irmãos o acesso à vida divina. Rejeitar a encarnação é reduzir Jesus a um simples profeta ou admirável sábio, cuja sabedoria é incontestável, mas que não pode fazer mais do que transmitir conhecimentos. No entanto, Jesus é o Salvador da humanidade.
Sabemos que o Mistério Pascal está no centro da nossa fé, porém, acreditar que Jesus ressuscitou porque é Deus, exige de nós acreditar que Ele é o Deus que se encarnou. Não basta apenas admirar a sabedoria de Jesus, é preciso aderir a Ele, acolhendo a sua salvação.

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