Homilia segundo domingo do advento

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Homilia segundo domingo do advento

Possivelmente, quase ninguém de nós tem alguma experiência de deserto, embora tenhamos uma noção dele em nossa cabeça, formada por imagens de televisão ou fotografias. Além da extrema dificuldade de sobreviver no deserto, por causa do clima, há o grande problema de locomoção. O deserto é mutatório; sua paisagem muda a cada momento e isso dificulta encontrar caminhos e, até mesmo criar caminhos, pois as areias apagam o que foi construído.
Mas, vejam o que dizia o Evangelho, fazendo eco à 1a leitura: uma voz grita no deserto: “preparai o caminho do Senhor”. Percebam também o cenário descrito pelo Evangelho: João Batista está no deserto e lá, ele pede que seja preparado o caminho do Senhor. Dentro de uma paisagem mutatória, que muda a todo o momento, com acontece no deserto, é lá que é preciso preparar o caminho do Senhor. Ali é preciso construir estradas para que o Senhor possa chegar até nós e nós, conseqüentemente, possamos chegar até ele para que encontro possa acontecer. Este é o sentido do deserto que colocamos diante de nós, onde será construído o presépio. Um espaço de areia e sem estradas; um local sem indicações e que não leva a lugar algum. Este é o desafio que vem da celebração: construir estradas, construir caminhos pelos quais Deus possa caminhar e, de outro lado, facilite a caminhada das pessoas a se encontrarem com Deus.
O deserto expressa também a sociedade atual, no que se refere a caminhos que levem a Deus. Uma sociedade deserta de Deus por ser uma sociedade mutatória, que muda muito e a todo instante; repleta de novidades que desnorteiam nossos passos de chegar até Deus. Os valores perenes da religião, em nossos tempos, são tratados como tabus e considerados retrógrados. Coisas que valeram por um tempo, mas que agora perderam o encanto e dizem pouco ao homem do século XXI. Já comentamos aqui que cresce a indiferença no sentido de ter um compromisso com Deus, mas, ao contrário disso, cresce a busca de Deus como um interventor do alto, capaz de livrar a pessoa de suas dificuldades. Cresce a religião que promove a invocação mágica do alto para que Deus resolva problemas. A proposta do Evangelho é diferente: deixar os caminhos que desencontram de Deus e construir caminhos que favoreçam o compromisso com os valores do Evangelho. Criar, portanto, caminhos com os valores perenes do Evangelho. Esta é a proposta se quisermos ter um novo céu e uma nova terra, como sugere a 2a leitura, com a justiça habitando em sua totalidade.
Os caminhos que nos levam a Deus foram proclamados nas leituras que acabamos de ouvir. Em primeiro lugar a consolidação da justiça, como acabei de mencionar, recordando a 2a leitura. Um tema que foi proclamado, igualmente, no salmo responsorial. Além da justiça, um caminho que conduza à paz, que favoreça a construção da paz, como cantamos no Salmo responsorial, com a bela expressão: “quero ouvir o que o Senhor irá falar: é a paz que ele vai anunciar”. E ainda no salmo responsorial, a promessa que o Senhor nos dará tudo que é bom, ajudando-nos a compreender o final da 1a leitura, com a imagem de Deus bom pastor conduzindo o seu povo por caminhos seguros e serenos. Esta é a Palavra de Deus que não é tabu nem tampouco retrógrada, algo do passado, mas uma mensagem e uma orientação clara para hoje, a se considerar a necessidade da justiça, da paz e de Deus como guia seguro que nos conduza e nos conceda a serenidade em nosso viver.
É com esta reflexão que compreendemos o compromisso de sermos construtores de estradas que favoreçam o encontro com Deus. Não somos pessoas que vivem do passado, sem uma proposta de vida para o século XXI. Nós somos gente deste século; gente que entende ser difícil construir estradas no deserto social de nossos dias para favorecer o encontro com Deus, mas mesmo assim se mantém firme no propósito e na certeza que com os valores do Evangelho podemos construir uma nova terra; uma nova sociedade. Amém!

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