Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

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agosto 10, 2018
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Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

(Lc 1,39-56)
Arca da Aliança, rogai por nós!

Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ

A solene liturgia de hoje não é simplesmente uma comemoração de um artigo de Fé Católica declarado pelo Dogma da Assunção de Maria em corpo e alma ao céu (Munificentissimus Deus, Pio XII, 01.11.1950), mas a Igreja neste dia faz memória, proclama e testemunha que o Senhor para salvar o seu povo realiza maravilhas em seu favor. No evangelho, Isabel reconhece que essas obras grandiosas de Deus se realizam no mistério de uma mulher, que se torna mãe do Senhor porque acreditou nas suas promessas. Toda a perícope evangélica se move em torno de duas saudações intimamente relacionadas: Maria que saúda Isabel e Maria que saúda o Senhor.

Na primeira saudação, do ponto de vista do conteúdo, ou seja, daquilo que Maria disse a Isabel, nada se pode afirmar. Porém, não se deve relativizar a reação diante de tal saudação: “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria no seu ventre e Isabel ficou plena do Espírito Santo”. Mãe e filho são profundamente tocados por aquela presença. Evidentemente não estamos apenas diante de Maria como parenta de Isabel que lhe traz uma alegria natural e espontânea, mas esta presença é a da “Mãe do meu Senhor” cuja visita causa estranheza a Isabel, pois ela não se reconhece digna: “Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor venha me visitar?” (do grego, literalmente: “De onde me vem isto: a mãe do meu Senhor até mim?”). Com esta reação jubilosa da mãe e do filho, Lucas nos abre uma janela para o Antigo Testamento a fim de retomar toda a história de preparação para a vinda do Messias. A grande promessa de Deus ao seu povo era estabelecer sua morada no seu meio, ser o Deus-conosco (Emanuel).

Se no Antigo Testamento a Arca da Aliança simbolizava provisoriamente a presença de Deus no meio do seu povo, caminhando com Ele, para o povo da Nova e Eterna Aliança é Maria, a mãe e crente, a Nova Arca. Porém, mesmo usando o simbolismo vetero-testamentário, para o Cristianismo primitivo, Maria não é apenas figura-símbolo de promessas, mas nela se realizam as promessas: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. Destarte, Lucas com a reação e palavras de Isabel, estabelece um paralelo incontestável entre as duas alianças. Eis alguns pontos de contato do paralelo: o Rei Davi quando estava para receber a arca na sua casa, por temor, exclamou: “Como virá a mim a arca do Senhor”? (2Sm 6,9). Assim também Isabel, por se alegrar, ao receber a Mãe do Senhor, se pergunta: “De onde me vem isto…? A arca era o lugar das grandes teofanias (Ex 25,22; Nm 7,89), em Maria, Deus realizou a sua grande manifestação ao se encarnar; quando introduzida no templo, a Arca foi colocada no “Santo dos santos” (1Rs 6,16-19), e o sinal da presença da glória de Deus era justamente a nuvem que pousava sobre a arca e sobre a qual Ele decidiu habitar (1Rs 8,10; Ez 10,3), na narração da anunciação, Lucas referiu as palavras do Anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra” (Lc 1,34).

A Carta aos Hebreus, utilizando a linguagem do Antigo Testamento, destaca a figura da Arca da Aliança como símbolo para o “tempo de agora” (Hb 9,9). Portanto, se na antiga arca foram depositados as tábuas da Lei, o maná e a vara de Aarão, na nova arca o próprio Deus se encarnou: para realizar a nova e definitiva aliança pelo seu sangue e não mais pela observância de preceitos assinalados na pedra. Ele é o verdadeiro pão do céu, diferente do maná que os pais comeram e morreram. Ele é o sumo e eterno sacerdote, não mais como o sacerdócio levítico, simbolizado na vara de Aarão, que oferecia sacríficos e oblações, mas Ele mesmo é sacerdote-altar-vítima. Assim como a antiga arca permaneceu três meses na casa de Obed-Edom (2Sm 6,11), “Maria ficou com Isabel três meses e depois voltou para casa”.

A saudação de Maria ao Senhor, o Magnificat, como afirma Puebla é “o espelho da alma de Maria, o cume da espiritualidade dos pobres de Javé e do profetismo da Nova Aliança, e o prelúdio do Sermão da Montanha (Puebla, n. 297).

Se a saudação a Isabel provocou a reação profética dessa mãe e do seu filho que se alegraram com a realização das promessas feitas no AT, o Magnificat é a saudação de ação de graças de Maria reagindo diante da ação de Deus na história, conteúdo da sua oração jubilosa, um verdadeiro salmo de louvor composto de três partes: Introdução (1,46-47), o corpo do salmo (1,48-54) – onde se enumeram os motivos concretos e históricos da ação de graças –, e a conclusão (1,55), que reafirma em síntese as maravilhas realizadas. Nesta belíssima oração, Maria aparece em primeira pessoa como a Mãe do Filho do Altíssimo, isto é, aquela para qual o Senhor olhou e escolheu, pois achou graça aos olhos de Deus. Mas ela é também a representante do seu povo que testemunha a ação de Deus ao longo da história.

Em poucas palavras, o Magnificat sublinha três grandes maravilhas operadas por Deus: na vida de Maria (mensagem pessoal-espiritual: “minha alma”), na vida da humanidade (mensagem social: “dispersou os soberbos… derrubou dos tronos… saciou os famintos…), na vida do Povo de Israel (mensagem étnica: “socorreu Israel… nossos pais… Abraão).

Sem uma retrospectiva de toda a História da Salvação (AT–NT), é impossível captar o sentido profundo, verdadeiro e necessário de crer na Assunção de Maria. Se o Antigo Testamento suplicava: “Eu te celebro, Senhor de todo coração… Não deixes inacabada as obras de tuas mãos” (Sl 138,1.8), Maria no Novo Testamento é a grande prova que Deus ouviu esta súplica, pois : “olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Senhor fez em mim grandes coisas”. Se o céu tocou a terra no seio da Virgem Maria, na encarnação do Filho de Deus, tornando-a a arca da nova aliança, como então essa arca poderia aparecer no céu (1ª Leitura) se Maria não tivesse sido levada para lá? Se ela é apenas símbolo, não somos povo da nova aliança, e estaremos ainda transportando um baú obsoleto. Mas se a Palavra se encarnou, inaugurando e realizando a nova e eterna aliança, temos também a nova arca que não se perderá como a primeira. Portanto, Naquele que foi depositado nesta nova arca podemos depositar a nossa esperança, crendo que um dia no céu junto da sua arca também nós estaremos.

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