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X Domingo do Tempo Comum

(Mc 3,20-35)
Desqualificar e desacreditar para destruir!

Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ

O evangelho de hoje apresenta uma espécie de avaliação-reação (a partir de uma interpretação superficial e preconceituosa) de tudo aquilo que, até então, Jesus tinha realizado e ensinado conforme o esquema literário-teológico do evangelho de Marcos. É uma clara oposição a Jesus cujo ápice é a desqualificação da sua pessoa e do seu ministério a fim de desacreditá-lo e o plano dos seus opositores se execute, isto é, destruí-lo, como fora dito na conclusão do evangelho do Domingo passado: “Os fariseus com os partidários de Herodes imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo” (Mc 3,6: IX Domingo do Tempo Comum). Considerando o texto de hoje no seu contexto literário mais amplo (Mc 3,7-25), entram em cena, de um lado, Jesus e seus discípulos acompanhados por multidões (Mc 3,7-12) e, por outro, os seus adversários que insistem em pretextos para acusá-lo. Porém, Jesus não permite que o seu ensinamento se perca em generalidades, por isso, constitui os 12 (Mc 3,13-19), que se tornam o núcleo para compartilhar com Ele a sua missão de ensinar, curar e expulsar os demônios (3,14-15), o que resultará na morte, mas que essa será vencida pela ressurreição (8,34-35).

No episódio de hoje, Marcos incluiu as mais variadas categorias de pessoas: multidão, os parentes de Jesus (grego “oi par’ autou”: os ao lado dele), os seus discípulos, os escribas vindos de Jerusalém, e a família de Jesus (mãe e irmãos).

Um termo significativo que perpassa todo o texto é “casa” (grego oikos, oikia 5x). A perícope inicia dizendo: “Jesus voltou para casa”, certamente a casa de Simão e André, em Cafarnaum (1,29; 2,1). “A casa” no evangelho de Marcos aparece em oposição à sinagoga (1,29). Na sinagoga, Jesus enfrenta hostilidade e perseguição, em casa Ele encontra a multidão que deseja ouvir os seus ensinamentos (2,2). Se, por um lado, o ponto de partida é a casa como lugar físico, por outro, o objetivo principal é fazer a grande proclamação de quem verdadeiramente pertence à sua casa (família): “Quem faz a vontade de Deus…” Uma tal passagem exige a decisão de deslocar-se do “estar fora” para colocar-se junto a/de Jesus, isto é, “fazer a vontade de Deus”. A multidão que se reuniu diante da casa a ponto de não permitir que eles (Jesus e os discípulos) comessem (grego arton fagein: comer pão), deu um passo importante: “Havia uma multidão sentada ao redor dele”. “Sentar-se” é a posição do discípulo que deseja aprender do seu mestre, pois reconhece a sua autoridade e competência. Enquanto isso, verifica-se um movimento contrário que pretende desqualificar a pessoa de Jesus, chamando-o de louco (grego ekseste: ser/estar fora): “Saíram para agarrá-lo porque diziam que estava fora de si”. A acusação é dramática, pois é feita pelos “seus”, ou seja, aqueles que lhe eram mais próximos, mas que se escandalizaram com o seu comportamento e ensinamento. Ao mesmo tempo que afirmam estar Jesus “fora de si”, declaram-se eles mesmos fora da família de Jesus, pois se recusam a reconhecer Nele o próprio Deus agindo.

Mais decididos no seu propósito de desqualificar a pessoa de Jesus e desacreditar a sua missão são os mestres da Lei que tinham vindo de Jerusalém, pois “diziam que Ele estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios Ele expulsava os demônios”. O nome “Belzebu”, cuja etimologia é incerta, pode significar “senhor da casa” (deus do esterco, das moscas, etc.). Contudo, a sua aplicação nesse caso é uma tentativa de afastar as pessoas de Jesus, pois o seu ministério sendo obra do príncipe do mal, coloca em risco a própria fé israelita cujo “Senhor da casa” é um só: Deus. Essa acusação dos mestres é mais do que um insulto, é uma verdadeira contrapropaganda que pretende desautorizar o ministério de Jesus. Porém, Jesus desmoraliza-os com dois argumentos irrefutáveis, cuja lógica é evidente: a contradição do reino dividido: “Se Satanás se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se”; e a superioridade de Deus em relação ao príncipe do mal: “Ninguém pode entrar na casa de um homem forte… sem antes o amarrar”, e para isso precisa ser mais forte. Este “mais forte”, João Batista já havia anunciado: “Depois de mim virá um mais forte do que eu… Ele vos batizará com o Espírito Santo” (1,7). Portanto, não reconhecer que Jesus tem autoridade e poder que lhe vêm de Deus, e que é mais forte do que Satanás, é fechar-se a esta verdade e cometer um pecado sem perdão: “Quem pecar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado”. Não reconhecer o pecado é não admitir a necessidade de perdão, consequentemente um tal pecado se eterniza: “será culpado de um pecado eterno”.

Diante das acusações preconceituosas e infundadas dos adversários de Jesus a fim de desqualificar e desacreditar a sua pessoa e missão, eis o grande desafio para todos: decidir entrar na sua casa ou ficar de fora, e isto serve inclusive para aqueles que “objetivamente” já faziam parte da sua casa. Marcos não pretende desqualificar a mãe de Jesus e seus parentes próximos, mas alertar que nem laços biológicos nem outros condicionamentos naturais podem garantir a pertença à família de Jesus, a não ser “fazer a vontade de Deus”.

span style=”color: #333333;”>Nos nossos dias, como também se verifica ao longo da história do Cristianismo, há uma constante tensão entre a implantação do Reino de Deus e ação dos seus opositores que, por sua vez, utilizam a mesma estratégia: desqualificar para desacreditar e, por conseguinte, destruir. Tal estratagema hodiernamente, sem sombra de dúvidas, dispõe de muitos meios e recursos de grande alcance e eficácia (redes sociais, sistemas e partidos políticos, grupos financeiros, grupos ideológicos, “religiosos”, Ong’s etc.) que para garantir o domínio (“manter amarrado”) sobre pessoas, sociedades, nações, procuram destruir o seu principal inimigo: o evangelho, pois propõe valores e atitudes que ameaçam grupos poderosos que tentam dominar o mundo em vista da manutenção do seu status quo financeiro, político. O primeiro passo é convencer as pessoas de que a vivência do evangelho cerceia a sua liberdade, impedindo-as de serem felizes. O seu mandamento principal: quem segue uma religião está fora da realidade, é um louco alienado. Muitas vezes, tais opositores argumentam sua tese apelando para as caricaturas da experiência religiosa (fundamentalismo, proselitismo etc.) que são distorções doentias de quem aparentemente se diz crente, mas que na verdade não o é. Se há água contaminada, isso não justifica uma campanha para convencer as pessoas de que tomar água é prejudicial.

Desqualificando o evangelho como “coisa de louco”, os opositores impõem suas crenças e credos, na maioria da vezes, insanos, verdadeiros delírios coletivos, pois negam a objetividade da natureza (por exemplo: ideologia de gênero) e numa campanha (bem orquestrada e financiada) descaradamente proselitista aumentam os seus adeptos, geralmente fisgados dos seguimentos da sociedade mais vulneráveis e suscetíveis a manipulações, enganando-os com uma nova crença: defesa dos seus direitos. Acreditando nessa mentira, terão garantida a destruição das suas vidas.

É urgente para nós cristãos, que acreditamos ser membros da família de Jesus, a conversão, isto é, reconhecer o nosso pecado contra o Espírito Santo quando nos fechamos e resistimos aos seus apelos. Diante de uma sociedade que está se acostumando a acreditar em loucuras (expressas em atitudes, posturas, estilos etc.), não pecar contra o Espírito Santo é denunciar esta mentira e assumir as consequências, é “proclamar a nossa fé não apenas em palavras, mas também na verdade de nossas ações”.

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