Anos mais tarde, recordando estes acontecimentos, ele escrevia: "Sabe Deus aquilo que sofri naqueles dias de morte. Sem uma graça especial, teria certamente perdido a razão ou a vida. Que angústias, que dilacerações! A cruz que mais pesa não é a que buscamos, mas a que vem dos homens ou dos acontecimentos da vida. Uma vítima de amor sabe que não tem escolha. Deve pura e simplesmente imolar-se sem lamentos e sem preferência."
Numa dessas longas noites de insônia e de sofrimento, Pe. Dehon sonhou que estava abraçado a uma cruz. Era uma cruz do seu tamanho, feita à sua medida. O seu rosto encostado ao madeiro, o peito bem apertado no centro da cruz. Abraçava-a com todas as suas forças a ponto de sentir o coração despedaçar-se. Passado algum tempo, deixou-se cair, exausto e sem forças, mas a cruz permanecia direita, de pé no seu lugar, sem tombar. Pe. Dehon levantou os olhos para essa cruz. Ela estava diferente, tinha outra apresentação: no seu centro via-se perfeitamente recortada a forma de um coração. O que teria acontecido? Inquieto, orientou o seu olhar para o seu peito. Também este estava com um aspecto diferente: tinha recortada nele a forma de uma cruz.
Ao acordar, o Pe. Dehon ainda se lembrava da sua visão:"Uma Cruz com um Coração e um Coração com uma Cruz".
Pouco a pouco foi compreendendo que aquele sonho era o prenúncio de um compromisso, como mais tarde escreveu no seu Diretório Espiritual: "É preciso abraçar a cruz com amor, levá-la com coragem e alegria, desejá-la com ardor como o tesouro maior e mais seguro... Não basta levar a cruz externamente e por necessidade. As cruzes carregadas com coragem e amor são fontes de graça para todas as nossas obras e para todas as almas recomendadas por nós ao Senhor. A cruz é tão necessária que Jesus tem feito dela a medida da nossa glória..." Era a sua maneira própria de viver o conselho de Jesus no Evangelho: "Quem quiser seguir-me, tome a sua cruz (abrace sua cruz) e siga-me”.
Aquela cruz que ele abraçava era realmente a sua própria cruz. Mas aquele coração, nela recortado, de quem seria? O seu ou o de Cristo? Com certeza era o coração de Cristo, que estava bem no centro da sua vida. Era Cristo, Coração do Homem, Coração do Mundo. Era um coração desenhado no vazio, quase a querer moldar o coração do homem. E no seu peito, aquela cruz no seu próprio coração, de quem seria? Era a cruz de Cristo, a quem muito amava. Era uma cruz cravada no coração do homem como um sinal indelével do amor que Deus é.
A partir desta experiência, Pe. Dehon ficou em dúvida sobre o símbolo a escolher para a sua vida ou o seu jeito específico de viver o Evangelho. Podia tanto ser um coração com uma cruz como poderia ser também uma cruz com o coração. Optou pela primeira proposta. Inspirado pelo seu sonho, tomado de amor pelo Coração de Jesus, Pe. Dehon escreve em seu diário no dia 23 de maio de 1886: “Para o nosso Brasão escolhi o Sagrado Coração na Cruz...” (Cf. NQ III, 26). O primeiro Brasão da Congregação trazia o sonho de Pe. Dehon e a frase “Venha o teu Reino”. É por isso que o Pe. Dehon assinava as suas cartas e mensagens com a expressão latina, logo antes do seu nome: In Corde Jesu - isto é, no Coração de Jesus. Há mais de um século este é o Brasão oficial da Congregação. No seu diário ele escreve em agosto de 1886: “Minha decisão é de viver e morrer como uma verdadeira oferta ao Coração de Jesus”.
Em seu leito de morte em Bruxelas,na Bélgica, em 12 de agosto de 1925, olhando para a imagem do Sagrado Coração de Jesus ele disse pela última vez o compromisso de sua vida:
Em seu testamento espiritual lemos: “Deixo-vos o mais maravilhoso dos tesouros, o Coração de Jesus”. A dinâmica da Congregação mudou, os tempos mudaram e como já dizia Pe. Dehon: “Um homem que quer mudar a sociedade não pode ter ideias tímidas”. Esta frase foi e é motivação para muitos dos trabalhos desenvolvidos pelos religiosos dehonianos pelo mundo afora.
Foi nesse espírito que aconteceu em 1978, em Handrup, norte da Alemanha, o primeiro Festival da Juventude Dehoniana, marcando o centenário da Congregação. Este Festival foi preparado e organizado por jovens padres, professores e formadores das duas grandes escolas da Província alemã: St. Sebastian e Gymnasium Leoninum. A participação foi tão entusiasmada e o engajamento tão forte que já no ano seguinte foi organizado um segundo Festival da Juventude no Colégio St. Sebastian na cidade de Stegen, sul da Alemanha. Outra vez a participação dos jovens impressionou. Cerca de mais de mil jovens participaram ativamente do Encontro. Seus idealizadores foram Pe. Franz Hoch e Pe. Heinz Faller. Para ambos os Festivais foram desenhadas cruzes para serem usadas e estampadas como símbolos. Os dois desenhos eram muito diferentes entre si, mas a cruz desenvolvida em 1979 no Colégio St. Sebastian foi melhor recebida pelos participantes e ficou conhecida como a Cruz de Stegen. Seu idealizador foi o professor de artes daquela escola, Sr. Erhard.
Foi nesse espírito que aconteceu em 1978, em Handrup, norte da Alemanha, o primeiro Festival da Juventude Dehoniana, marcando o centenário da Congregação. Este Festival foi preparado e organizado por jovens padres, professores e formadores das duas grandes escolas da Província alemã: St. Sebastian e Gymnasium Leoninum. A participação foi tão entusiasmada e o engajamento tão forte que já no ano seguinte foi organizado um segundo Festival da Juventude no Colégio St. Sebastian na cidade de Stegen, sul da Alemanha. Outra vez a participação dos jovens impressionou. Cerca de mais de mil jovens participaram ativamente do Encontro. Seus idealizadores foram Pe. Franz Hoch e Pe. Heinz Faller. Para ambos os Festivais foram desenhadas cruzes para serem usadas e estampadas como símbolos. Os dois desenhos eram muito diferentes entre si, mas a cruz desenvolvida em 1979 no Colégio St. Sebastian foi melhor recebida pelos participantes e ficou conhecida como a Cruz de Stegen. Seu idealizador foi o professor de artes daquela escola, Sr. Erhard.
No ano de 1979,
Pe. August Hülsmann era o responsável pela Pastoral Vocacional e foi o primeiro a usar a Cruz de Stegen em um trabalho vocacional. O primeiro modelo em metal foi desenvolvido por um joalheiro da cidade de Pforzheim, mas não agradou aos seus idealizadores. Foi então que Pe. August iniciou a fabricação da cruz na cidade de Idar-Oberstein, na região Sudoeste do país. A divulgação da cruz foi crescendo e encontrando cada vez mais admiradores. Posteriormente as cruzes começaram a ser produzidas em madeira na Itália, mas segundo Pe. August foi no Brasil que ele encontrou a variação mais bonita, cunhada em alumínio fosco e metal brilhante. A grande diferença na divulgação da Cruz Dehoniana foi feita por Pe. Zezinho na década de 1980, logo após sua turnê de shows na Alemanha. Em várias partes do mundo a Cruz Dehoniana foi conhecida por muito tempo como a “Cruz do Pe. Zezinho”.
O Brasão da Congregação continua o mesmo,
o Sagrado Coração na Cruz, mas como símbolo é Cruz Dehoniana a mais conhecida. O coração na cruz expressa a espiritualidade deixada por Pe. Dehon: o amor e a reparação. Esse carisma se concretiza num estilo de vida pessoal que tem por missão “instaurar o Reino do Coração de Jesus nas almas e na sociedade”. É preciso configurar o nosso coração ao coração do Cristo. Precisamos deixar Jesus fazer o nosso coração semelhante ao D`Ele.